TRANS-ANARQUIA

TRANSIÇÃO COMO [PÓS-]ANARQUISMO

Autores

  • Cello Latini Pfeil UFRJ

DOI:

https://doi.org/10.29327/2128853.2.4-12

Palavras-chave:

trans-anarquismo, pós-anarquismo, outridade, transexualidade, nomeação

Resumo

Neste artigo, me dedico a escrever sobre trans-anarquismo para tratar, sem nenhuma ambição de completude, de seu âmbito organizacional e anti-assimilacionista, e de seu âmbito corporificado, materializado no corpo e naquilo que temos ao nosso alcance. Desde a invenção da categoria diagnóstica ‘transexualidade’ durante a segunda metade do século XX, o autoritarismo científico interpela as reivindicações por autodeterminação e autogoverno. Esse autoritarismo captura as possibilidades de transgredir a norma, estabelecendo os critérios das ‘incongruências de gênero’. Assim, a produção do antagonismo ‘trans’ se configura como uma expressão de Outridade, como pensado por Grada Kilomba, em detrimento da qual se constitui o Eu moderno. Por esse eixo de tensão, a crítica trans-anarquista traz uma proposição que se aproxima do que Newman entende como pós-anarquismo: ao constranger o assimilacionismo de movimentos trans e recusar toda pretensão de essencialismo, propõe, como pensado por Shuli Branson, que o anarquismo transicione, e traz o fator da prefiguração como basal para a criação de outros mundos, para a defesa de outros modos de vida. Nesse sentido, penso que a linguagem e o corpo podem ser tomados como mecanismos de autodefesa propriamente dita, como pensado por Elsa Dorlin, e de prefiguração, no sentido de que a imaginação radical de outras formas de vida abarca a destruição do mundo tal como o conhecemos. Para cumprir com as exigências metodológicas desse resumo, temos que: os objetivos desse estudo se sintetizam em uma apresentação de trans-anarquismo[s], em diálogo com outras perspectivas [pós-anarquismo, crítica à modernidade/colonialidade e à psicanálise, um pouco de pensamento decolonial]; adoto, como procedimento básico, revisão de literatura e discussão bibliográfica.

Biografia do Autor

Cello Latini Pfeil, UFRJ

Professor substituto de Ciência Política (UFRJ). Docente do Instituto de Pesquisa em Psicanálise e Relações de Gênero (IPPERG/FAUSP). Doutorando em Filosofia (PPGF/UFRJ). Mestre em Filosofia (PPGF/UFRJ). Especialista em Clínica Psicanalítica Freud-Lacaniana (CEPCOP/USU). Especialista em Teoria Psicanalítica Freud-Lacaniana (PPGF/UFRJ). Bacharel em Ciências Sociais (UFRJ), com diploma Summa Cum Laude. Membro do Conselho Técnico Científico da Associação Brasileira da Trans-Homocultura (ABETH). Coordenador do Núcleo de Pesquisas do Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (IBRAT). Editor da Revista Estudos Transviades. Editor da Revista Ítaca (PPGF/UFRJ). Editor da Revista Brasileira de Estudos da Homocultura (REBEH/UFMT).

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Publicado

2024-12-11

Edição

Seção

Cosmologias do múltiplo e formas de vida anticoloniais