Entre Máscaras e Verdades:
O Cordão da Mentira como Resistência Cultural e Política no Brasil Contemporâneo
Palavras-chave:
carnaval, memória, violência de Estado, resistência cultural, Cordão da MentiraResumo
O presente artigo analisa a trajetória do bloco carnavalesco paulistano Cordão da Mentira, surgido em 2012, como manifestação de resistência política e cultural frente à continuidade das violências de Estado no Brasil contemporâneo. A partir de uma abordagem interdisciplinar, que articula referências da filosofia (Bakhtin, Arendt, Benjamin, Foucault, Krenak), da história e da crítica social, investiga-se o carnaval como espaço de subversão e memória. O estudo adota metodologia qualitativa baseada em análise documental, registros audiovisuais e depoimentos de militantes e participantes. O Cordão da Mentira é examinado como um dispositivo performático que utiliza o riso, a paródia e a ironia para denunciar o autoritarismo, o racismo estrutural e o genocídio da população negra e periférica, além de levantar críticas ao capitalismo individualista e à necropolítica contemporânea. O artigo demonstra como o bloco transforma as ruas de São Paulo em palco de confronto simbólico, onde a alegria carnavalesca é instrumento de pedagogia insurgente e de enfrentamento das narrativas oficiais do Estado. A cada ano, o Cordão atualiza suas denúncias, relacionando o passado ditatorial à atual fragilidade democrática, e expandindo sua crítica a contextos globais, como o genocídio palestino e a destruição ambiental. Conclui-se que o Cordão é mais do que manifestação cultural: é um ensaio político-poético de rua, uma prática coletiva de memória e uma potente estratégia de resistência contra o esquecimento e a barbárie institucional.
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