A ANTROPOFAGIA

UMA TRAJETÓRIA SOBRE A APREENSÃO DO OUTRO, SEUS SABERES E CONHECIMENTOS

Autores

  • Leo Ciaccio IFCH/UERJ

Palavras-chave:

epistemologia , antropologia, alteridade, descolonização

Resumo

Neste trabalho busca-se voltar ao Manifesto Antropófago para mapear a sua relevância na construção de uma brasilidade plural por meio da primeira fase do movimento modernista, segundo uma abordagem epistêmica entre o nosso e a alteridade. Teria a antropofagia apenas um caráter estético ou pode-se pensar nela como um processo de descolonização do conhecimento? Se sim, qual seria a importância nos dias atuais de repensar o canibalismo não somente a partir do campo artístico-literário, mas sob uma óptica filosófica-política-antropológica? Na tentativa de responder a estas questões, faz-se necessário traçar um caminho que possa transitar por territórios de saberes tão distintos quanto os citados acima. O ponto de partida é a representação da figura do canibal no ensaio de Montaigne e na sua contraposição com os relatos de Hans Staden a fim de evidenciar a abertura de representação que o primeiro possibilita ao olhar para o selvagem — ressignificando tal noção. É esta abertura que permitirá, séculos depois, que o movimento antropofágico faça uso do canibalismo como peça-central no processo de apreensão do outro. Assim, tentou-se buscar também respostas à questão do canibalismo a partir da perspectiva pós-estrutural de Viveiros de Castro, na qual a relação entre semelhante e dessemelhante se faz presente. Mas é a partir do trabalho de Suely Rolnik que o movimento antropofágico pode ser interpretado segundo uma problemática micropolítica dos modos de subjetivação frente à relação com o outro e seu lugar. Seguindo este traçado, buscou-se criar contornos possíveis dos campos de saberes nos quais a antropofagia pode ser compreendida, não mais de maneira unilateral, mas, sim, de acordo com os pontos de intersecção entre tais conhecimentos. Se a antropofagia pressupõe a relação de um sujeito antropófago com um outro-nutriente é, assim, passível de ter seu contorno epistêmico também traçado.

Referências

ANDRADE, Oswald de. Manifesto Antropófago. In: Manifesto Antropófago e outros textos. 1. Ed. São Paulo: Pinguim; Companhia das Letras, 2017.

CASTRO, Eduardo Viveiros de. Metafísicas canibais: Elementos para uma antropologia pós-estrutural. 1. Ed. São Paulo: Ubu Editora, n-1 edições, 2018.

MONTAIGNE, Michel de. Dos canibais. In: Ensaios. 1. Ed. São Paulo: Editora 34, 2016.

ROLNIK, Suely. Antropofagia Zumbi. 1. Ed. São Paulo: n-1 edições, Hedra, 2021.

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Publicado

2025-07-31