A ANTROPOFAGIA
UMA TRAJETÓRIA SOBRE A APREENSÃO DO OUTRO, SEUS SABERES E CONHECIMENTOS
Palavras-chave:
epistemologia , antropologia, alteridade, descolonizaçãoResumo
Neste trabalho busca-se voltar ao Manifesto Antropófago para mapear a sua relevância na construção de uma brasilidade plural por meio da primeira fase do movimento modernista, segundo uma abordagem epistêmica entre o nosso e a alteridade. Teria a antropofagia apenas um caráter estético ou pode-se pensar nela como um processo de descolonização do conhecimento? Se sim, qual seria a importância nos dias atuais de repensar o canibalismo não somente a partir do campo artístico-literário, mas sob uma óptica filosófica-política-antropológica? Na tentativa de responder a estas questões, faz-se necessário traçar um caminho que possa transitar por territórios de saberes tão distintos quanto os citados acima. O ponto de partida é a representação da figura do canibal no ensaio de Montaigne e na sua contraposição com os relatos de Hans Staden a fim de evidenciar a abertura de representação que o primeiro possibilita ao olhar para o selvagem — ressignificando tal noção. É esta abertura que permitirá, séculos depois, que o movimento antropofágico faça uso do canibalismo como peça-central no processo de apreensão do outro. Assim, tentou-se buscar também respostas à questão do canibalismo a partir da perspectiva pós-estrutural de Viveiros de Castro, na qual a relação entre semelhante e dessemelhante se faz presente. Mas é a partir do trabalho de Suely Rolnik que o movimento antropofágico pode ser interpretado segundo uma problemática micropolítica dos modos de subjetivação frente à relação com o outro e seu lugar. Seguindo este traçado, buscou-se criar contornos possíveis dos campos de saberes nos quais a antropofagia pode ser compreendida, não mais de maneira unilateral, mas, sim, de acordo com os pontos de intersecção entre tais conhecimentos. Se a antropofagia pressupõe a relação de um sujeito antropófago com um outro-nutriente é, assim, passível de ter seu contorno epistêmico também traçado.
Referências
ANDRADE, Oswald de. Manifesto Antropófago. In: Manifesto Antropófago e outros textos. 1. Ed. São Paulo: Pinguim; Companhia das Letras, 2017.
CASTRO, Eduardo Viveiros de. Metafísicas canibais: Elementos para uma antropologia pós-estrutural. 1. Ed. São Paulo: Ubu Editora, n-1 edições, 2018.
MONTAIGNE, Michel de. Dos canibais. In: Ensaios. 1. Ed. São Paulo: Editora 34, 2016.
ROLNIK, Suely. Antropofagia Zumbi. 1. Ed. São Paulo: n-1 edições, Hedra, 2021.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Leo Ciaccio (Autor)

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Licença e Copyright
Licença
Os trabalhos publicados estão sob uma licença: [CC.BY-NC.ND] da Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Copyright
- O(s) autor(es) autoriza(m) a publicação do artigo na revista.
- O(s) autor(es) garante(m) que a contribuição é original e inédita e que não está em processo de avaliação em outra(s) revista(s).
- A revista não se responsabiliza pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos textos, por serem de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).
- É reservado aos editores o direito de proceder ajustes textuais e de adequação do artigos às normas da publicação (Sem alterar, fundamentalmente, o conteúdo do texto).
Os Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
- Autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Attribution License, permitindo o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria do trabalho e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal), já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado.